Y el que cuenta mi historia
Nada sabe de mi vida
Mi fracaso
Mi victoria perdida
(Draco Rosa – Todo Marcha Bien)
E então eu vou cansando de fingir que sou feliz. Mas vou cansando assim de chegar a achar que fingir que sou feliz é uma saída de emergência trancada, ou uma manhã de domingo sem cachorro ou criança pra brincar no parque ou na praça ou na rua de casa. E vou tendo preguiça de ser falsa e saber que é tudo mentira e de acreditar muito nela.
Porque eu acredito muito nos meus fingimentos. Porque, qual a graça de fingir algo e não acreditar? Porque afinal eu não tô fingindo pra ninguém se não pra mim.
E quando revejo meus fingimentos passados. De como eu estava triste e infeliz e cheia de medos e incertezas e até um pouco desesperada e fingindo que tava tudo bem tão bem. Penso que se eu não fosse eu dentro de mim acharia que realmente estava tudo bem. Mas não estava. Só estava tentando me superar de mim. Esconder de mim esse sentimento de fracasso que me exauri. Essa vontade de ser realmente aquilo que eu finjo tão bem ser. Essa pessoa tão alegre e espontânea e tão cheia de coragem de cuspir na cara do medo que chega a dar raiva nos outros. Porque ninguém é feliz mesmo e eu finjo tão bem isso tudo que chego a ser mesmo assim, e contamino todos com minha mentira, e todos pensam que eu não tenho nada com que me preocupar. Minha vida é um eterno abraço no vazio, mas eu abraço esse vazio com tanta voracidade que suscito o desprezo de quem pensa que esse vazio nem é vazio e que só há vazio nele. Porque não são capazes de enxergar com o coração. Mas eu sou capaz de enxergar com o coração? Eu vivo fingindo tanto pra mim que nem sei o que é sentir sem ser assim, um grande fingimento. Ou talvez seja tudo tão verdadeiro e eu que tenha perdido a capacidade de identificar e discernir a felicidade da tristeza. Não, nem é tanto assim. Eu me lembro bem quando eu era feliz de verdade, e sabia exatamente disso. Eu sabia tão exatamente que era feliz, que fui sofrendo com o fim da felicidade antes dele vir, porque eu sabia que ele viria. Eu sabia que ele viria. E agora ele está aqui diante de mim. E eu vi quando ele chegou. De malas prontas disposto a ficar pra sempre. Mas não existe esse pra sempre. Só que ele veio. E está aqui. E eu estou aqui fingindo que ele não está. Mas me lembrando todos os dias o dia que ele chegou. E trouxe com ele essa sensação de impotência, de perda e de imobilidade. Só que no final a queda é encoberta e tudo parece igual ao que sempre foi. Porque, quem sabe, esse fingir as coisas seja um murro na cara dessa dor alojada dentro de mim que me enfada tanto, e que eu sufoco com o dedo em riste resistindo e mostrando quem é que manda aqui nessa merda. Talvez seja mesmo um superar a mim mesma e ser feliz sem ter um motivo exato pra ser.
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