domingo, 17 de março de 2013

O Avarento



Migalhas, migalhas, migalhas...
De quê me adianta me pores na boca
se continuam sendo migalhas?

Os cãezinhos comem as migalhas
que caem da mesa dos seus senhores.

Mas nunca fostes dono meu.

No entanto, teus dedos transpassaram
minha alma

Me alcançastes com teus olhos
cabeça mergulhada em meus ombros
mãos dadas
corpos entrelaçados
E me negas consolação...

Me tiras aquilo que nunca me destes
Vou-te a ti cheia e
torno-me a mim vazia

Recebo de teus lábios macios
Beijos de dúvida sem adeus
Beijos molhados sem ardor
Beijos que frustram meu langor
Beijos que repelem os meus

Migalhas...
só se pode dar
aquilo que se pode ter

A pobreza da alma
semeia a miséria
profunda

Tornar-te-ia rico,
meu amor
Se não fosses
tão avaro
em sentir

O arrebatamento
que há em mim
não cabe num peito
entrincheirado
como o teu

Abandona o combate
Negociemos tua rendição
Não há migalhas nesse
mundo
Que sustente minha sofreguidão.


(Pintura: Maurice Sand - Pantalone (Commedia dell'arte 1550))

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