domingo, 31 de março de 2013

Conta-gotas


Pequenos 
Simples
Singelos gestos 
O amor em conta-gotas
Pingando constantemente
Não precisa muito
Só precisa sempre.


(Fotografia: Charlie Chaplin - City Lights (Luzes da Cidade) 1931)

sábado, 30 de março de 2013

Amar






Tuas palavras
Amargas
destilaram
Fel
no meu peito
Amargando
A doçura
do meu olhar.
Oh! Malfadado
Fracasso
da aptidão
de amalgamar!
A solidão
profunda
que há
no amargor
de teus lábios
Fecunda
amargura
no meu jeito

de amar.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Percurso


Sinuosamente pelo caminho
Dissimulada
Com a voz engasgada
Sem utopia e sem paz
Desarraigada de ideologia
Entranhada de lascívia
Seriam os trópicos?
Esse calor desnudante
Esse balanço natural dos corpos
A malandragem da vida suburbana
Os carros que tentam correr
Carros que tentam andar
Eu parada
As vezes pensando no seu retorno
No seu rosto molhado
Em sua voz por vezes rouca
Suas cobranças
Minha falta de sonhos
pra sonhar
O caminho se estreita
Mudamos de percurso
Cada um no seu rumo
E nessa noite perpétua
Onde o calor sufoca
Penso na saudade...
Não sei o que é isso!
Eleita a mais bela de todas
as palavras
Por mim a mais mal sentida.
Um som de buzina
Preciso prosseguir.

01/09/2009



(Pintura: Leonid Afremov - Rain Princess)

quarta-feira, 20 de março de 2013

Cicatriz


Eu nunca me dei demais
Eu nunca me perdoei o bastante
Eu sempre fui fiel por instantes
E por instantes me guardei de mim

Em uma eterna caminhada errante
Fiz do próximo o distante
Me distraí com mentiras
E caí em armadilhas

Liberta do apego ao nada
Fugindo daquilo que nunca me quis
Pedi a morte como uma alma atormentada


Fingindo que era feliz
Mesmo estando acorrentada
Costurei sem dor essa cicatriz.

14/04/2008



(Pintura: Mark Ryden - Rose)

terça-feira, 19 de março de 2013

Resistência


Y el que cuenta mi historia
Nada sabe de mi vida
Mi fracaso
Mi victoria perdida
(Draco Rosa – Todo Marcha Bien)

E então eu vou cansando de fingir que sou feliz. Mas vou cansando assim de chegar a achar que fingir que sou feliz é uma saída de emergência trancada, ou uma manhã de domingo sem cachorro ou criança pra brincar no parque ou na praça ou na rua de casa. E vou tendo preguiça de ser falsa e saber que é tudo mentira e de acreditar muito nela.
Porque eu acredito muito nos meus fingimentos. Porque, qual a graça de fingir algo e não acreditar? Porque afinal eu não tô fingindo pra ninguém se não pra mim.
E quando revejo meus fingimentos passados. De como eu estava triste e infeliz e cheia de medos e incertezas e até um pouco desesperada e fingindo que tava tudo bem tão bem. Penso que se eu não fosse eu dentro de mim acharia que realmente estava tudo bem. Mas não estava. Só estava tentando me superar de mim. Esconder de mim esse sentimento de fracasso que me exauri. Essa vontade de ser realmente aquilo que eu finjo tão bem ser. Essa pessoa tão alegre e espontânea e tão cheia de coragem de cuspir na cara do medo que chega a dar raiva nos outros. Porque ninguém é feliz mesmo e eu finjo tão bem isso tudo que chego a ser mesmo assim, e contamino todos com minha mentira, e todos pensam que eu não tenho nada com que me preocupar. Minha vida é um eterno abraço no vazio, mas eu abraço esse vazio com tanta voracidade que suscito o desprezo de quem pensa que esse vazio nem é vazio e que só há vazio nele. Porque não são capazes de enxergar com o coração. Mas eu sou capaz de enxergar com o coração? Eu vivo fingindo tanto pra mim que nem sei o que é sentir sem ser assim, um grande fingimento. Ou talvez seja tudo tão verdadeiro e eu que tenha perdido a capacidade de identificar e discernir a felicidade da tristeza. Não, nem é tanto assim. Eu me lembro bem quando eu era feliz de verdade, e sabia exatamente disso. Eu sabia tão exatamente que era feliz, que fui sofrendo com o fim da felicidade antes dele vir, porque eu sabia que ele viria. Eu sabia que ele viria. E agora ele está aqui diante de mim. E eu vi quando ele chegou. De malas prontas disposto a ficar pra sempre. Mas não existe esse pra sempre. Só que ele veio. E está aqui. E eu estou aqui fingindo que ele não está. Mas me lembrando todos os dias o dia que ele chegou. E trouxe com ele essa sensação de impotência, de perda e de imobilidade. Só que no final a queda é encoberta e tudo parece igual ao que sempre foi. Porque, quem sabe, esse fingir as coisas seja um murro na cara dessa dor alojada dentro de mim que me enfada tanto, e que eu sufoco com o dedo em riste resistindo e mostrando quem é que manda aqui nessa merda. Talvez seja mesmo um superar a mim mesma e ser feliz sem ter um motivo exato pra ser.



(Pintura: Edgar Degas - L'Absinthe)

segunda-feira, 18 de março de 2013

Vou tirar meu bigodinho de Hitler e forjar um par de sobrancelhas postiças pra você, Seu Lindo.


Não que você precise.
Mas...
Não, não se preocupe
eu cuido de você
Eu fico aflita e
sem saber a saída
e me remôo com
dores de parto
Numa angústia que
Só Deus...
Mas não vou desabafar
agora
Vou cuidar de você.
Lave minha louça
e eu cuido de você
Abaixo o volume do
som
Diminuo o grave do
subwoofer
Eu vou ouvir você.
O tempo passou
e você não percebeu
agora você se perdeu
mas não importa
continuo minha
prece
e tudo será diferente
agora
daqui pra frente
Porque a gente
se perde mesmo
sempre acontece
E tem as barreiras
e tem as merdas
e tem a preguiça
e a falta de lucidez
Mas tem eu
aqui
Você aí
E tem o destino
Atravessando a rua
descalço
e os carros
e os outros
E tem Deus
Fechando e
abrindo os
faróis
E tem a hora do medo
A hora da dúvida
As orações
Minha mão estendida
Olha aqui,
Eu poderia gastar
todos os meus créditos
com você,
Seu Lindo
Mas tem uma pilha de louça
na pia
A torneira tá pingando
Lave minha louça
enquanto eu cuido de você
Posso cuidar muito bem
de você
Ainda que você
não precise.

domingo, 17 de março de 2013

Bombocado Cremoso



Digo ao meliante:
__ Vamos comigo ao mercado?
Na porta do mercado o meliante diz “Tchau” e me abandona.
Quem aguenta?
Quando eu digo “vamos” eu quero dizer “ir e voltar”.
Circulando pelas gôndolas com ódio no coração, vejo um pacote de milharina e penso: vou fazer um bombocado cremoso pra dar uma desestressada...
Chego em casa e vou ver o celular (que tinha ficado lá porque achei que não fosse precisar da música dada a companhia... ó céus ó vida... abandonada no mercado sem música nem nada... mas ó... rolou um tio-gato me paquerando... foi até divertido... até esqueci do abandono) e leio o seguinte sms: Sabe o que deu vontade de comer..? Bombocado cremoso de milharina com queijo...huummm...XD
Olha, tenho comigo assim: quando você pega ódio da pessoUa por motivos óbvios, seria bom que a comunhão telepática fosse pra casa do caralho. E tenho dito.
Eis o famigerado Bombocado Cremoso, com pastéis de forno e suco de manga.
Agora quero ver nego me dizer: Por que você é ruim pra mim, Anna Gabriella?
Ah, mas tem uma loucinha lá na pia te esperando! Kihuuu


O Avarento



Migalhas, migalhas, migalhas...
De quê me adianta me pores na boca
se continuam sendo migalhas?

Os cãezinhos comem as migalhas
que caem da mesa dos seus senhores.

Mas nunca fostes dono meu.

No entanto, teus dedos transpassaram
minha alma

Me alcançastes com teus olhos
cabeça mergulhada em meus ombros
mãos dadas
corpos entrelaçados
E me negas consolação...

Me tiras aquilo que nunca me destes
Vou-te a ti cheia e
torno-me a mim vazia

Recebo de teus lábios macios
Beijos de dúvida sem adeus
Beijos molhados sem ardor
Beijos que frustram meu langor
Beijos que repelem os meus

Migalhas...
só se pode dar
aquilo que se pode ter

A pobreza da alma
semeia a miséria
profunda

Tornar-te-ia rico,
meu amor
Se não fosses
tão avaro
em sentir

O arrebatamento
que há em mim
não cabe num peito
entrincheirado
como o teu

Abandona o combate
Negociemos tua rendição
Não há migalhas nesse
mundo
Que sustente minha sofreguidão.


(Pintura: Maurice Sand - Pantalone (Commedia dell'arte 1550))

quinta-feira, 14 de março de 2013

Deseo


Hoy gané
un beso 
de desayuno
y ahora
toda soy
ternura!
Besayúname
todos los
días
mi amor
que
te envolveré
con la paz
que me trae
tus manos
en mis pelos
y te diré
mis secretos
solo mirando
tus ojos
sin miedo
Y seremos
todo
deseo.


domingo, 3 de março de 2013

Percepções obscuras



Aqueles dias
em que
perto
não é o
suficiente.
Eu queria
era
estar
dentro
de você.
Queria poder
te abraçar
apertadinho
até sufocar
toda essa
angustia.
Ah!
Malfadado
fracasso
da capacidade
de
amalgAmar.
Meu coração
está dilacerado.
E ver
você se afogar
em si mesmo
E não saber nadar
nesse mar
Não consigo
te enlaçar
e Vivo a Esmo.
Eu só queria
Num abraço
desesperado
te fazer entender
que o que eu
digo
não é
o que
você
crê.

sábado, 2 de março de 2013

Intangível (Comunhão)




Eu queria poder te fazer
Todas as declarações
de amor
do mundo
Sem que isso jamais
soasse exagero
da minha parte

E escrever
Todas as cartas
de amor
Sem jamais parecer
Ridícula

Te dedicar
poemas
pelo resto da vida...

E te acordar
no melhor do sono
só porque sinto
aflição e desespero
toda vez que te observo
por mais de três minutos
e vejo
Que tudo o que sou capaz
de sentir
É imensamente
te querer

Eu queria sempre te amar
e te fazer arder
te amar
e te fazer arder
Numa oscilação constante
Como um pêndulo secular

E nessa comunhão
de espírito
e sopro de vida
Independente
da guerra
ou da paz
Continuar sentindo
essa atração
irresistível
Que me faz correr
pros seus braços
toda vez que paro
e fico
frente a frente
com você

É reconfortante saber
que esse te querer
Cada dia mais
e sempre
e tanto
e tão perto
Está diretamente ligado
à suas palavras
Proferidas num sonho
intangível
Em que você
Sentenciava:
__ Eu sinto, claramente, que isso só tende a
Aumentar.

Sem nunca se perder
ou se quebrar
ou se apagar
ou separar.
Sem parar...

(Pintura: Andre Kohn - Pour la vie)