terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Enredo de carnaval: nem commedia nem arte



Ele tinha uma pele
morena
que cheirava
uma mistura
de almíscar
com avelã

E toda vez que eu ficava
frente a frente
com aqueles olhinhos
miúdos
e aquela boca larga

Eu me desfazia
de todas as minhas
promessas
de amor próprio
e o beijava

E me enroscava

Enterrava meus dedos
na sua nuca
e entranhava
meu rosto
em seu rosto
até roubar
seu perfume

Minha vontade
era arranhar
e morder
suas orelhas
e seu pescoço

Mas era sempre
hora de ir

E eu podia me banhar
o quanto fosse
que ainda sentia
aquele cheiro doce

E no meio da noite
eu acordava
Sobressaltada
Procurando por ele

Como se algum dia
ele estivesse estado
ali
a meu lado

Ah, que infeliz
era eu
que por causa dele
seria capaz
de recender amor
noite e dia

e viveria
em harmonia
cantarolando
todo dia:

“Ai, Ioiô...
Eu nasci pra sofrer
Fui oiá pra você
Meu zóinho fechô...”

Com mais fidélis
Que Gal
Bethânia
Zélia
Bruna
E até Elis

Mas ele não quis.



Pintura: Di Cavalcanti - Pierret (1922)


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