quarta-feira, 31 de julho de 2013

Mais e mais



Eles se amaram na rede.
Não a de espreguiçar nem a de pescar.
Se amaram com palavras...
Se doparam e se possuíram...
Se amalgamaram...

Ele dizia na sua euforia:
tá gostoso, branquinha? tá? então me fala que tá gostoso...’

Ela se sentia confusa por amá-lo tanto não amando...
Ele tinha a paz da inconsciência

Mas se amaram... loucamente...

Ela fazia exigências
Ele só queria protegê-la...

Não podia amá-la
Não podia deixá-la
Não podia deixar de amá-la...

Recitou Buarque:
Branca, branca, branca, eu dizia, bela, bela, bela, era pobre o meu vocabulário.’

Depois de muito amor, recitou

Ela ia pedir perdão caso o amasse...
Ele era terno
Ela meiga demais para não se apaixonar

Eram tempos difíceis para o amor
Mas eles se amaram...

E na volúpia desse amor
se selaram...

Ela o chamava de pretinho

Ele não resistiu a sua brancura
de manhã raiada
Aos seus cabelos longos
castanhos
Seus olhos amorosos
suplicantes...
penetrantes...

Se amaram...
e nada mais podiam fazer...
Se não se amarem mais...
E mais...


Pintura: Steinbach

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Ah, a paixão tem umas esperas incansáveis...

Tudo que eu quero
é ver você passar...
Espero você
Passar
e sorrir.
E eu sorrio
também.
E seu sorriso
fica aqui dentro
E seu olhar doce
fica aqui dentro.
E aqui dentro
fica tudo melhor...
Então continue
Passando
e sorrindo
Que eu
sorrio
também.
E por hora
isso já
tá bom
Pra mim.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Ilusão


Deslumbrou-se com a poeira
das ruas.
Iludiu-se com as luzes
acesas,
Com as belezas
Efêmeras,
Com os aplausos
Vazios.
Nunca deu valor
às coisas pequenas
Ainda assim
quis ser grande
Mas só coube
em Mim.


Pintura: Pablo Picasso - Pierrot (1918)

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Pretinho, bora brincar de amor?



Tudo o que eu queria
era um amor desmedido
Bem atrevido
Que me fizesse
ter arrepio
Que me pusesse
ébria
no meio fio
Que me propusesse
O desafio
de ser feliz
Só um pouquinho

Eu queria um amor
Louco
Desses bem ridículos
De andar de patins
de mão dada
na porta de casa
E deixar que falem
os vizinhos

Eu queria seu amor
bem quentinho
Começando devagarinho
até endoidar
Quero um cheiro na nuca
e com força bruta
não parar de te
Beijar

Quero acordar
bem cedinho
Te chamar
de pretinho
Gemendo
ao seu ouvido
Te pedindo
pra não parar.

Quero sair
na rua
Sorrindo
Sabendo
que a noite
vem vindo
E nós vamos
recomeçar.



Fotografia: Cidade de Deus (2003)


domingo, 7 de julho de 2013

Nós ainda descobriremos o Amor


Desvia os olhos
E morde
meus lábios
Com gosto
de quem quer
Fugir
Nada pode
cortar
esse laço
Me envolve
em teus braços
E fica pra
dormir.


Pintura: Frida Kahlo - Diego e eu

sábado, 6 de julho de 2013

Esperança



Você e eu sabemos a profundidade do tempo. E que quanto mais o tempo passa, mais entornamos, boca adentro, esse caldo de vida. Essa necessidade sufocante de vida.
Virando cada página sofrida, encontrei versos tão lamuriosos quanto o rancor.
Onde estaremos nós depois?
Eu queria muito mais. Que tudo fosse visceralmente mais. Que fossemos tragados pelo ardor e encontrássemos mais.
Mas a esperança me tem dado muito pouco. Mas tão pouco, que eu preferiria que ela nem estivesse mais aqui.


Pintura: Kees van Dongen - Gypsy (1911)

quinta-feira, 4 de julho de 2013

De longe


Ele já impaciente
repetia insistente:
“Calma, calma”
Ela não se continha
E em meio ao desatino
Falou quase sem
Pensar:
“Não posso me acalmar!
não quero não quero!
Quero te abraçar
apertadinho
Até ficar
quentinho
E sussurrar
mansinho
bem gostosinho:
‘vai passar... vai passar...’”
Mas ele não estava
Lá.


(Pintura: Henri de Toulouse Lautrec - A Cama)