quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Vicissitudes



As mãos deslizavam
pela nuca
E entranhavam
nos cabelos
Que se soltavam
Lentamente
Descendo pelo dorso
Espalhando pelo corpo
Como um manto
Sagrado
E tudo era
Carícia


quarta-feira, 22 de julho de 2015

Indizível




Eu ainda quero que você saiba
O que eu nunca ousei dizer
Que por sua culpa ouço Chico
À flor da pele
Porque é impossível te esquecer
E as três mariazinhas
me são tristes
Porque não as procuro
pelos céus pra te lembrar
As procuro esperando
encontrar você.
E pergunto fundo
Para além mar
Elevo a mente ao terceiro céu
Numa angústia de arrebentar
O que será de mim
Que não posso te ter?


quarta-feira, 13 de maio de 2015

Pretensas ameaças de um colibri estúpido




"Ah, minha colibriella
Entra voando
Pela minha janela
Vem dar palpite
Na minha vida
Sem que eu consinta
Palpita meu coração"
Oh, meu bem
Não me entenda mal
Dance comigo esse tango
Antes que venha o carnaval
Porque todo amor que te dedico
Não resistirá a mais um vendaval
Mas como me negar
aos teus beijos molhados
Teus afagos calados
Teus cuidados alados?
"Piquitinha, eu vou te cuidar
direitinho..."
É o que você sempre diz
Entre flores, chocolates e cerejas
Até beber todas as cervejas
Ah, meu bem
Não me faça mal
Não converta meu canto
Em pranto
Que nem Chico, nem Caetano
Nem Fellini, nem Almodóvar
Nem Vinícius, nem Tom
Nem Buñuel, nem Truffaut
Conceberiam paixão tal.



Pintura: Rick Beerhorst


terça-feira, 17 de março de 2015

Lamento único



Bate de repente
uma saudade latente
de você
Mas me vem logo
em mente
você já diferente me
Insultando
Grosseiro
E estúpido
Ah, você matou o colibri
Mas eu continuo aqui
Paralisada
Fragmentada
Amedrontada
Que grande idiota eu sou
Que grande idiota é você
‘não sei lidar com isso...
Só fiz pra te afastar’
E essa foi a grande
Desculpa
Pra me magoar
Mas com o colibri
Morto
Já não há o que
Lamentar.


terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Entre profecias, suspiros e sussurros



Amor é desejo
e muito mais
É café da manhã
e não jantar.

Amor é não precisar olhar no olho
Amor é olhar no olho
e não precisar falar
Amor é falar e não fazer sentido
Amor é não fazer sentido

Amor é querer
E não combinar
Amor é comunhão
E não intenção

Amor é convivência
E não conveniência
Amor não pede licença
Nem explicação

Amor, fica
Não vai, não.


Pintura: Dancing in the rain – Marek Langowski